Arte e inovação tecnológica são atividades complementares. A arte é nutrida pela inovação e fomenta a criação inovadora, uma relação interdependente e fertilíssima. As transformações da tecnologia, do meio ambiente, do tecido social, da criatividade e da geopolítica exigem questionamento e capacidade de síntese cada vez maiores. Por meio da arte, buscamos o elemento revolucionário – seja ele um pensamento, uma imagem ou um objeto – ou, ao menos, aquilo que exerceu uma modificação sensível na vida do cidadão comum.
Raras iniciativas apontam esse caráter polimórfico da criatividade humana. Levantar, analisar e selecionar um elenco de temas com a ambição de montar, ainda que de forma lacunar, uma história coletiva, multicultural e integrada foi o mote de Invento. Uma iniciativa que pode dar a cada visitante um sentido de pertencimento global, um entendimento de que a saga empreendida pela humanidade passa pelo atravessamento de novos patamares do saber e de transformação da natureza.
Demarcamos arbitrariamente uma data de partida para essa pesquisa: o ano 1865. Há exatos 150 anos, a revolução industrial já estava em pleno curso, e a escravidão chegara ao fim nos Estados Unidos. A abolição da escravatura marca a necessidade de o homem inventar máquinas para facilitar o trabalho cotidiano e de criar processos que melhorassem a qualidade de vida.
Imagine Invento como um museu de ciências criado por artistas. Uma exposição que ambiciona contar a história das invenções que criamos e como, em contrapartida, elas terminaram por nos criar. O caráter multidisciplinar da exposição mostra um mundo ávido por mudanças e pelas respostas criativas e críticas que as interpretações artísticas podem oferecer. Ao incorporar as invenções em suas obras, os artistas, em geral, pensam em desfuncionalizá-las, afastá-las de sua função original para lhes oferecer uma reencarnação de seu sentido social. A verdade da arte não é a mesma da história. As máquinas servem; a arte não está a serviço. Ao inventar coisas, de fato, inventamo-nos.
Marcello Dantas e Agnaldo Farias